Contemporização
O enevoado céu coava, num teor escatológico, estrondosos pingos d’água. Meu corpo físico recebia, violentamente, aquele cataclismo. A ardente carne estava embebida pela impetuosidade da atmosfera. Já não era mais hora de seguir estatelado e perplexo naquele gramado. Num milissegundo de iluminação, reorientei meus pensamentos e pude encontrar um convincente ponto arquimediano, eliminando qualquer tipo de indeterminação ou dúvida. Nem mesmo os mais estudiosos da conscienciologia – ou, mais especificamente, da projeciologia – seriam capazes de explanar o quão intenso foi aquele momento de transcendência. Cheguei em casa e, energizado por essa dramática projeção, senti o mundo se mover por um novo élan. Tudo passava a ter sentido. Foi como naqueles instantes de intangível alegria: você sequer consegue assimilar o que está acontecendo. A intensa alegria vem, te contagia e, num momento cruel, se dissipa implacavelmente, sem você ao menos descobrir o porquê de seu sorriso. Já dentro de casa,