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Contemporização

O enevoado céu coava, num teor escatológico, estrondosos pingos d’água. Meu corpo físico recebia, violentamente, aquele cataclismo. A ardente carne estava embebida pela impetuosidade da atmosfera. Já não era mais hora de seguir estatelado e perplexo naquele gramado. Num milissegundo de iluminação, reorientei meus pensamentos e pude encontrar um convincente ponto arquimediano, eliminando qualquer tipo de indeterminação ou dúvida. Nem mesmo os mais estudiosos da conscienciologia – ou, mais especificamente, da projeciologia – seriam capazes de explanar o quão intenso foi aquele momento de transcendência. Cheguei em casa e, energizado por essa dramática projeção, senti o mundo se mover por um novo élan. Tudo passava a ter sentido. Foi como naqueles instantes de intangível alegria: você sequer consegue assimilar o que está acontecendo. A intensa alegria vem, te contagia e, num momento cruel, se dissipa implacavelmente, sem você ao menos descobrir o porquê de seu sorriso. Já dentro de casa,

Extremos

A manhã ainda não começou. Contudo, a madrugada descortina contundentes antagonismos. Impiedosamente, são descarriladas dramáticas contradições defronte de mim. Em plena antemanhã, sob a inexistente luz que toma minha existência, tudo se obstaculiza vertiginosamente. Enquanto inúmeras criaturas permanecem em período de sono, minh'alma adquire aspecto nublado: visões variadas habitam meu espírito. Um verdadeiro conflito mental se inicia, ao passo que caminho penosamente na desértica rua. Fazer uma síntese não é tarefa fácil ou trivial. Porém, tem vital relevância para o avanço e consolidação de qualquer pauta ou tema. Paralelamente ao meu andar na úmida calçada, brota um humano estranho. A frase anterior pode soar como pleonasmo, mas o elemento é mais esquisito que o normal. Interrompe meu momento de elucubração e, com insistência peculiar, decide fielmente me seguir na rua. Maravilha, situação inédita! Eu jamais havia sido perseguido ou assaltado. Não lamurio. Flagro uma perspectiv